As empresas que dão certo são as que experimentam, experimentam, experimentam… Isso as mantém permanentemente num certo “estado crítico” – uma situação de tensão acumulada – que é a condição para que possa acontecer algo surpreendente – uma inovação, por exemplo. Surpresas/inovações – assim como terremotos – ocorrem para liberar a tensão acumulada no sistema.
Essas empresas não apostam num “pulo do gato”, apostam em vários gatos em condições de pular. Manter a empresa em estado crítico acaba levando a acidentes congelados (“frozen accidents”) que podem desencadear a adoção maciça de alguma iniciativa. Acidente congelado é o grão de areia que, ao se deslocar, PODE produzir uma grande avalanche.
A primeira guerra mundial foi desencadeada por um motorista que transportava um príncipe quando errou o caminho e entrou numa viela onde, por acaso, estava um terrorista que matou o príncipe e sua esposa. No dia seguinte, a Europa entrava numa guerra que matou milhões. Obviamente não foi o erro do motorista que a causou – a Europa já estava num estado máximo de tensão acumulada por outros motivos. Entrar na rua errada foi o acidente congelado.
Steve Jobs (Apple) e Jack Welch (GE) administravam assim. Quem diria que o ipod seria o acidente congelado que iria catapultar a APPLE (que estava quebrada seis anos antes) para a posição de empresa mais inovadora do mundo? Welch na GE, mantinha a empresa em tensão permanente via cobranças de metas, ano a ano, o que levou a uma sucessão de (pequenos) terremotos suficientes para que seus resultados se tornassem muitas vezes superiores aos da media de seus concorrentes. O pessoal do 3G/Ambev faz o mesmo. O “pulo do gato” (vá lá!) é manter a empresa permanentemente fora de seu estado de equilíbrio.
O maior dos terremotos pode não ter origens excepcionais. O maior dos sucessos de marketing também não. Não precisa um “grande pulo do gato”, um grande gênio, um grande investimento em pesquisa e desenvolvimento. Se o sistema está no estado crítico, a próxima avalanche, grande ou pequena, começará da mesma forma: um único grão a desencadeia.
O que causa uma avalanche, ou terremoto, ou sucesso de mercado, só tem a ver com o estado em que o sistema estava antes do grão cair. Só tem a ver com a história que o trouxe até o estado de tensões acumuladas em que se encontra.
Para a inovação acontecer, o sistema que chamamos de empresa tem que ser mantido permanentemente em “estado crítico”. Se ele está nesse estado, o tamanho do evento que libera a tensão não depende do tamanho de um fato gerador em particular.
No coração dessa coisa toda está a descoberta de que redes (de todos os tipos) – átomos, moléculas, espécies, pessoas e até mesmo ideias – têm uma tendência forte a organizar-se em padrões semelhantes. Todas têm estados críticos.
Empresas inovadoras são as que, graças à ação deliberada de seus líderes, estão permanentemente em “estado crítico” para possibilitar a emergência de acidentes congelados inovadores. Mesmo a partir de ideias que não pareçam nada geniais, mesmo que sejam avalanches que se originaram em “grãos de areia”, como foram quase todas as grandes inovações da era digital.
http://colunas.revistaepocanegocios.globo.com/ideiaseinovacao/inovacoes-sao-como-avalanches-ou-terremotos/
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