No final do ano passado, o prefeito Fernando Haddad sancionou uma lei que muda as regras para venda de comida de rua. O que poderia beneficiar vans de cachorro-quente e pipoqueiros virou oportunidade de negócio gastronômico. A lei municipal 15.947/2013 vai regulamentar como poderá ser essa venda e abre espaço para negócios como os food trucks. “O propósito da lei é flexibilizar algumas relações de ambulantes”, afirma Reinaldo Messias, consultor do Sebrae/SP.
Vistos como tendência nos Estados Unidos nos últimos anos, o modelo de um veículo estacionado nas ruas que vende refeições além de um sanduíche começa a surgir no Brasil, com algumas adaptações. “O food truck mostra que é possível entregar produtos de excelente qualidade, com uma assepsia legal a um preço razoável”, conclui Messias.
Hoje, só os vendedores de cachorro-quente tem autorização para estacionar e trabalhar nas calçadas da cidade. Desde 2007, nenhuma nova licença era emitida. Hoje, estima-se que a região metropolitana de São Paulo tenha mais de cinco mil vendedores de cachorro-quente motorizados atuando.
No projeto dos vereadores Andrea Matarazzo (PSDB), Arselino Tatto (PT), Floriano Pesaro (PSDB), Marco Aurélio Cunha (PSD) e Ricardo Nunes (PMDB), carros com até 6,3 metros de comprimento poderão operar, desde que deixem ao menos 1,2 metro de espaço para pedestres na calçada. Agora, o prefeito deve assinar um decreto até o final deste mês, definindo quais comidas poderão ser vendidas e como será a concessão de autorizações.
Antes mesmo do decreto, o negócio já tem apoio de chefs e restaurantes da cidade. Em São Paulo, a chef Andrea Kauffman, do AK Vila, por exemplo, instalou uma barraca na porta do seu restaurante para vender pratos rápidos e com preços mais em conta. Os chefs Jorge Gonzalez e Marcio Silva foram além. Ao invés de abrir um restaurante e lidar com os altos custos, resolveram criar o Buzina Brasil, um veículo que vende de lanches a massas em pontos estratégicos. “A ideia surgiu pela questão do investimento que não é tão alto e da nossa vontade de ter mais contato com os clientes”, diz Gonzalez.
Segundo ele, é preciso ter no preço, além dos pratos, um atrativo. ”Não pode ser caro, já que não está oferecendo as mesmas vantagens de um restaurante, como garçom, e tem que fazer uma coisa mais criativa, uma comida boa, de qualidade, com preço justo”, ensina. Os sócios investiram 300 mil reais no negócio e vendem pratos e lanches com preço médio de 25 reais.
Ainda sem a lei em vigor, os sócios instalam o restaurante ambulante em estacionamentos e garagens. “A gente está trabalhando em empresas, eventos e espaços privados de lojas e galerias”, conta Gonzalez. O importante é avaliar se há fluxo no local e demanda por mais opções de alimentação.
Para o empreendedor, a lei vai ajudar, mas ainda precisa ajustar alguns pontos. “Food truck é feito com rodas para rodar, um ponto fixo para cada é um pouco limitante”, opina. Apesar de fugir dos custos de um restaurante, os donos de food trucks precisam estar prontos para lidar com outros desafios. “Vários fatores que não estão no nosso controle, como chuva, frio e calor, podem atrapalhar. Não tem nada garantido no food truck”, diz Gonzalez.
O formato de unidade móvel já tem funcionado para outros tipos de negócios, como pet shops. Com a aprovação da lei e um modelo facilmente replicável, os food trucks passam a ser uma opção para franquias que pretendem faturar em territórios já saturados ou mercados menores que não comportam uma unidade padrão.
É o caso da rede Salgado Mania, que oferece franquias móveis para a venda de lanches e salgados com investimento de 89 mil reais. “Como primeiro teste, a gente começou a operar na porta da fábrica, onde tem um ponto de ônibus movimentado, e a rentabilidade ficava 70% acima dos pontos que a gente já tinha”, explica Gustavo Ely Chehara, sócio-fundador da rede. A rentabilidade maior é resultado de custos menores na operação.
Assim como o Buzina Brasil, hoje, 90% das unidades da Salgados Mania operam em estacionamentos provados. A empresa assinou um acordo com uma rede de supermercados para instalar franquias do tipo. “A gente tem recebido até 150 fichas de interessados por semana. Até julho, vamos estar com 25 carros”, diz Chehara.
A nova lei, além de dar oportunidade aos empreendedores, dá segurança aos consumidores. “As pessoas comiam na rua com medo, porque não era profissionalizado e não tinha regra nem de fiscalização de operação nem de vigilância. A profissionalização será boa para todo mundo”, afirma Chehara.
Para Messias, do Sebrae/SP, o grande momento de faturar com este tipo de negócio é agora. Com a Copa e outros eventos, a demanda com sustentabilidade e profissionalismo”, diz.
Segundo ele, um negócio do tipo pode precisar de até 400 mil reais de investimento. “Não se deve entrar na onda de que o investimento é baixo. Os cuidados são até maiores. Nos Estados Unidos, eles são fiscalizados duas vezes ao ano e não uma, como outros negócios. Há um rigor maior, porque a possibilidade de falhas é maior”, explica Messias.
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