Atuar dentro da legalidade, criar vínculos com os clientes e escutar a sua equipe são as principais recomendações que Agenor Dias, ou Kyko, dono do bar Charles Edward, em São Paulo, dá para os empreendedores interessados em abrir bares ou restaurantes. O bar é uma exceção no mercado: prestes a completar 20 anos de história, recebe dez mil clientes por mês. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP), só três em cada dez estabelecimentos do tipo completam dois anos de funcionamento. Hoje, o estado de São Paulo possui mais de 350 mil bares e restaurantes e um em cada quatro bares fecha o mês com prejuízo.
Antes de se tornar empreendedor de sucesso neste ramo, Kyko passou o início dos anos 1990 escutando sons completamente diferentes dos shows ao vivo e dos DJs aos que está acostumado hoje em dia: era operador de pregão na bolsa de valores e dividia o salão principal com centenas de homens gritando ao seu lado.
Segundo ele, a paixão por bares nasceu nesta fase. “Eu gostava muito de tomar bons uísques, adorava sair para dançar e assistir a shows”, afirma. Em poucos anos o paulistano foi se destacando dentro do ambiente da bolsa, ganhou muito dinheiro, abriu sua própria corretora e, em 1994, recebeu uma proposta de repassar todos os seus clientes para o Unibanco.
Com a fonte de renda, Kyko decidiu se mudar para os Estados Unidos. Quando estava lá, conheceu o dono do P. J. Clarke's, renomada rede de restaurantes de Nova York, e se ofereceu para comprar a marca por US$ 1,5 milhão. Depois de ter sua oferta recusada, voltou para o Brasil com a ideia de montar um negócio.
Primeiros passos
Logo que chegou ao Brasil ficou sabendo que um conhecido estava abrindo o Charles Edward, um bar em São Paulo que estava à procura de um sócio – Kyko entrou de cabeça no negócio. O empreendedor passou os primeiros anos ajustando as áreas financeiras da casa. “A gestão era uma bagunça”, afirma.
Uma das primeiras medidas que tomou foi documentar e padronizar todos os contratos da casa e comissionar os garçons. “Tem que ficar na legalidade. É uma economia burra tentar burlar a lei. Além disso, queria que todo mundo se motivasse a trabalhar mais. Falava que com a comissão os garçons se tornavam ‘mini-acionistas’ do nosso estabelecimento”, diz.
Outra ação tomada foi fidelizar seus clientes com descontos nas garrafas de uísque e trabalhar para deixar o ambiente mais alegre, com um visual “mais simpático”. “Combinei com meu sócio que iria arriscar uma quinta-feira por semana, transformando o ambiente do bar em algo mais festivo, um bar com cara de balada.” Kyko conta que em pouco tempo a quinta-feira se tornou o dia de maior lotação da casa, recebendo até 500 pessoas por noite.
Um bar velho de alma nova
E o bar só cresceu: consolidou-se como um dos primeiros ‘clubes do uísque’ da capital paulista, funciona como casa de shows e é considerado referência para encontros entre o público mais velho. São cerca de dez mil clientes por mês no Charles Edward, consumindo aproximadamente 260 garrafas de uísque.
Já com a sua cara, Kyko decidiu comprar todas as ações do Charles Edward oito anos atrás. Hoje comanda ao lado de seu filho, Gabriel Veiga, que é quem arrisca às quintas-feiras no bar, realizando eventos voltados para um público mais jovem que o de costume. Sua outra filha, Fernanda Veiga, chef de cozinha, assina o cardápio da casa. “Tem que estar aberto a outras tendências. Eu considero o Charles um bar velho de alma nova”, afirma.
Pensando naqueles que estão começando a empreender nesta área, Kyko acredita que não existe segredo para se sair bem no setor: “é acreditar no seu sonho e ser persistente”. Por isso, lista uma série de recomendações e dicas. Confira abaixo:
1. Escute sua equipe
Um dos principais pontos de Kyko é que o empreendedor do setor de bares e restaurantes deve escutar sua equipe. “Eles estão todos os dias com os seus clientes. Sabem muito bem o que faz sucesso e o que deve ser melhorado. Tem que estar muito ligado com seus funcionários.”
2. Trabalhe dentro da legalidade
Na visão do empreendedor, outro ponto essencial para o sucesso do Charles Edward foi legalizar todos os processos do seu estabelecimento. “É uma economia burra. Depois toma um processo gigantesco e tem que pagar uma grana enorme. Simplesmente não vale a pena”, afirma.
3. Tenha persistência
Outro fator que Kyko julga necessário é ter persistência. Por muitas vezes o empreendedor esteve em desacordo com o seu sócio, mas mesmo assim persistiu. “Tem que acreditar nos seus sonhos e correr atrás disso. Se você acha que vai dar certo, tente fazer isso acontecer.”
4. Crie vínculos
“Meu sócio odiava quando eu distribuía de graça garrafas de uísque para os meus antigos amigos da bolsa. Mas eu sabia que aquela atitude criaria um vínculo com esse cliente, que normalmente gasta muito”, afirma Kyko. Essa e outras atitudes como dar chope de graça para quem espera na fila do bar fizeram o Charles se destacar em meio a outros bares e restaurantes, conta o empreendedor.
5. Inove
“Nós somos um bar velho de alma nova”, diz Kyko. Se no fim dos anos 1990 o empreendedor lutava por quintas-feiras diferentes no Charles Edward, hoje ele disponibiliza essa mesma opção para o seu filho inovar dentro de um dos nomes mais tradicionais de São Paulo. “São pequenas ações que vão gerando uma vida longa para o seu negócio”, diz. Além disso, o empreendedor afirma que para manter o sucesso, a renovação é um fator chave: acabou de instalar um sistema que informa a quantidade de pessoas no estabelecimento, o que os clientes estão pedindo e quanto gastaram. “Assim nós descobrimos as preferências das pessoas que frequentam o meu bar e podemos atender ainda melhor.”
http://revistapegn.globo.com/Banco-de-ideias/Alimentacao/noticia/-dicas-para-ter-um-bar-de-sucesso.html
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