Com o objetivo de adquirir uma nova
fonte de renda nos tempos de crise, profissionais de diversos ramos decidiram
investir na criatividade e no talento para aumentar o orçamento. Por isso, as
ruas da cidade tornaram-se uma alternativa para aqueles que buscam uma forma de
complementar a renda familiar e as feiras livres são a nova tendência. Unindo
sustentabilidade, moda e gastronomia, esses eventos ganharam notoriedade no
município ao dar espaço para profissionais que buscam oportunidades e por
movimentar a economia.
Há quatro anos no ramo da
gastronomia, a cozinheira Vivian Almeida, 31 anos, decidiu dar visibilidade ao
seu trabalho e sair da zona de conforto, quando notou a redução do seu lucro
nas vendas caseiras de crepe e tapioca. Ela conta que utilizou as redes sociais
para se unir a outras profissionais e organizar uma feira. Através da
iniciativa, ela criou um grupo composto por costureiras, artesãs e brecholeiras
do município.
“Meu lucro mensal diminuiu nos últimos meses e eu decidi correr atrás do
prejuízo indo até os consumidores nas ruas. A proposta da feira é atrair o
público de uma forma charmosa e inteligente. Esse tipo de evento é algo que
tende a crescer em Niterói, porque oferece a oportunidade dos profissionais
autônomos exporem seus trabalhos, conquistarem novos clientes e aumentarem a
margem de lucro”, afirmou.
Umas das profissionais que embarcou
nessa ideia a fim de driblar a crise é a vendedora Tatiana Azevedo, 29 anos.
Com um estoque cheio de camisas femininas, ela decidiu montar um estande na
feira para obter mais um canal de venda, já que a comercialização na internet
também reduziu nos últimos meses.
“Sempre utilizei as redes sociais
para estreitar a relação com os clientes, porém, estamos em uma fase difícil no
setor comercial. Sendo assim, precisamos aparecer e cativar o cliente através
do contato pessoal. Decidi participar das feiras por uma questão estratégica,
com o intuito de alcançar fregueses no âmbito virtual e pessoal”, contou a
vendedora.
Aproveitando os dias de folga, a
auxiliar administrativa Raíssa Reis, 21 anos, que nas horas vagas confecciona
produtos artesanais, é uma das profissionais que marcam presença nas feiras do
município. Quando não está realizando serviços administrativos na empresa onde
trabalha, a jovem se dedica a desenvolver produtos como carteiras, pesos de
porta, bolsas, porta-níquel, enfeites e outros utensílios.
“Faço esse tipo de trabalho para
complementar minha renda mensal. Até pouco tempo eu vendia apenas para amigos,
familiares e na internet. Depois que participei de uma feira e vendi mais de 30
camisas, percebi que essa era uma alternativa fundamental para atrair clientes
e obter retorno sobre a qualidade do meu trabalho”, afirma a artesã ressaltando
que “o preço baixo também é um fator que colabora para o êxito das vendas nas
feiras livres”, assegura.
Seguindo a mesma estratégia, a
vendedora Tatiana de Paula, 36 anos, decidiu investir no ramo da confecção de
aromatizadores de ambiente, para ajudar o marido a aumentar o orçamento da
família. Depois que perdeu o emprego e viu as contas acumularem, ela recebeu a
ajuda de uma amiga perfumista e passou a desenvolver uma série de aromatizantes
caseiros. Hoje, Tatiana recebe o auxílio do marido para realizar a entrega das
encomendas.
“Por uma questão de necessidade,
descobri uma habilidade que eu desconhecia. Quando perdi meu emprego, me vi
forçada a buscar uma alternativa para arcar com as despesas que não paravam de
aumentar. A ideia de desenvolver aromatizantes caseiros, tinha tudo para dar
errado e, atualmente, é minha principal fonte de renda. Por isso, faço questão
de frequentar eventos artesanais e expor meu trabalho a céu aberto”,
afirmou.
Cansada de acumular roupas, sapatos e
acessórios que não utiliza mais, a vendedora Roberta Encarnação, 33 anos,
entrou no ramo do brechó a fim de lucrar com as peças que já não fazem parte do
guarda-roupa. Para iniciar o negócio, ela contou com a ajuda de amigas que
também decidiram “desapegar” de algumas peças. O nascimento da filha foi um dos
acontecimentos que motivou a vendedora a recorrer à iniciativa para obter uma
verba extra.
“Estou de licença-maternidade e
resolvi utilizar os meses de folga ao meu favor. Por isso, separei todos os
sapatos, vestidos e bolsas que não utilizo mais para vender por um preço
acessível na internet. Na plataforma virtual consegui lucrar R$ 100 por semana.
Na feira o lucro é até três vezes maior e o preço das peças variam de R$ 5 a R$
50”, contou.
Na vida das turismólogas Juliana
Gonçalves, 30 anos, e Elizabeth Assad, 56 anos, o prazer pela gastronomia virou
fonte de renda. Há quatro anos, elas viraram sócias e utilizam uma bicicleta
para realizar suas vendas pela cidade. Com uma proposta totalmente sustentável,
a “food bike” é presença confirmada nos eventos que acontecem pela cidade e faz
tanto sucesso quanto as guloseimas comercializadas.
“Temos uma agência de turismo e,
paralelo à empresa, investimos no ramo gourmet. Os eventos que ocorrem na
cidade são de suma importância, porque tiram o público da zona de conforto dos
shoppings e atraem para os espaços públicos, que precisam ser valorizados e
utilizados para fins de lazer e empreendedorismo”, afirma Juliana.
Eventos – Neste domingo, duas feiras
livres acontecem, simultaneamente, na Zona Norte e na Zona Sul do município,
entre os horários de 10h às 18h. No Campo de São Bento, em Icaraí, será
realizada mais uma edição do Pedal Gourmet Artesanal. Na Praça Flávio Palmier
Veiga, no Barreto, acontece a Feira Moda Mix de gastronomia, moda e
artesanato.
Empreendedorismo
Começar um negócio no Brasil não é
uma tarefa fácil. No entanto, o espírito empreendedor do brasileiro continua
falando mais alto. A aptidão para artesanatos chegou de vez à Cidade Sorriso.
Isso porque no último ano houve um aumento de 40% no número de novos artesãos
trabalhando em diversos pontos turísticos de Niterói. De acordo com a Casa do
Artesão de Niterói, o município conta com 1,6 mil inscritos.
A coordenadora da instituição, Rosane
Calôr, disse que a procura pela exposição das peças nos principais pontos
turísticos da cidade acontece mediante um desemprego ou na geração de uma
segunda renda.
“Na feira de artesanatos de São
Francisco são 110 expositores. No Campo de São Bento, o número chega a 200
pessoas. Além disso, a Rua Doutor Leandro Mota, no Jardim Icaraí, recebe cerca
de 50 artesãos todo segundo sábado do mês”, contou.
E quem pensa que é difícil conseguir
uma barraquinha, está enganado. Isso porque a criatividade é o maior aliado do
empreendedor. Para apresentar as peças feitas, basta ligar para a Casa do
Artesão de Niterói (2719-2924), agendar um horário e marcar a apresentação para
uma comissão julgadora. O local de trabalho dos artistas é escolhido conforme a
necessidade e características do evento.
O Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) oferece cursos de empreendedorismo e
artesanatos. O projeto Brasil Original, por exemplo, foi concebido
originalmente pelo Sebrae para aproveitar os grandes eventos como forma de
estimular o desenvolvimento do artesanato brasileiro por meio da inovação,
competitividade e acesso a mercados.
Para as Olimpíadas, por exemplo,
artesãos poderão ver o projeto Brasil Original no Rio de Janeiro entre os dias
05 e 21 de Agosto, no Centro da cidade. Mais informações podem ser obtidas no
telefone (21) 2212-7800. O Sebrae informou ainda que o setor envolve 8,5
milhões de pessoas e movimenta R$ 50 bilhões por ano. Em Niterói, os valores
não foram informados.
A Câmara de Dirigentes e Lojistas de
Niterói informou que os artesãos devem ser microempreendedores pelos benefícios
que a lei geral das pequenas empresas proporciona a eles. Através de um
pagamento de R$ 45 por mês (INSS, ICMS e ISS inclusos), os artesãos têm
diversos benefícios, como aposentadoria e licença-maternidade.
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