Todo dia, Wilson e seu irmão caminhavam 4 km até a escola. Estilingue no pescoço, iam encontrando os colegas pelas porteiras, na região rural de Osvaldo Cruz, no interior de São Paulo. Chegando do colégio, deixavam a bolsa de lado e iam para a roça encontrar os pais.
A mãe, além de trabalhar na plantação de café com o marido, também era cabeleireira e costureira. Ela mesma fazia as roupas da família, às vezes desmanchando um vestido para transformá-lo em duas bermudas, sempre otimizando recursos. Moravam todos em uma casa de tábua, sem forro e sem eletricidade. Em vez de assistir TV, reuniam-se no quintal com lampiões para compartilharem histórias, até a hora em que dava sono.
Com o preço do café piorando a cada ano, a família começou a passar dificuldades — apesar de as crianças não sentirem a diferença. O pai contraiu uma dívida com o banco e precisou se desfazer do sítio. Trocou por uma máquina de benefício de arroz e iniciou um pequeno comércio em uma cidade vizinha chamada Rinópolis. Wilson tinha 11 anos quando dormiu pela primeira vez com barulho de carros.
Todo mundo em volta do menino era de alguma forma exemplo de autonomia e determinação.
Conforme ia entrando na adolescência, ia ficando mais comum que ele trabalhasse para ganhar algum dinheiro. Sábado tinha muito movimento na cidade, então Wilson saía para vender sorvete e poder, assim, comprar sua primeira bicicleta. Na época de finados, se metia a vender jabuticabas. Prontamente aprendeu a consertar fogões para aproveitar a clientela do pai, que além do arroz também vendia botijões de gás.
O gosto pelo trabalho se estendeu até a época de faculdade. Como o curso de engenharia elétrica na FEI, em São Bernardo do Campo, era em horário integral, não podia ter um emprego fixo. Arranjava “bicos”. Chegou a corrigir 3 mil provas por final de semana e trouxe sua caixa de ferramentas de Rinópolis para continuar fazendo pequenos consertos.
Serial
Ele tinha 40 anos quando teve a ideia do negócio que realmente mudou sua vida. A Poit Energia surgiu para fornecer um serviço completo no aluguel de geradores — do cabeamento aos profissionais de plantão, além das máquinas. Antes disso, no entanto, Wilson já havia iniciado (e dado fim a) alguns projetos. Cinco, para ser exato.
O primeiro deles foi uma empresa de instalações elétricas, que abriu com um sócio, aos 26 anos. Em paralelo, começou também uma loja de material elétrico e hidráulico no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Faltou planejamento, e as vendas foram mal: precisou passar o ponto, vendeu as prateleiras para um, o estoque para outro…
Por pouco tempo tocou ainda uma transportadora, na Vila Maria, também na capital paulista. E como todo rapaz do interior, Wilson tinha o sonho de ter um sítio na cidade em que nasceu.
Assim que pôde, comprou uma propriedade por lá e virou fruticultor. Viu o preço da manga nos grandes centros e pensou que o negócio não tinha como dar errado. Chegou a ter 400 pés de manga e só depois foi descobrir a diferença do preço do que o produtor vende até chegar ao consumidor. “Foi uma grande alegria quando comprei o sítio e duas quando vendi”, brinca.
Acho que faço melhor
Wilson foi contratado, nos anos 90, para ser o engenheiro eletricista do show da banda Double You. Na véspera do evento, precisou de um fornecedor de caminhão com gerador, para o caso de haver queda de energia. Além do serviço caro, difícil de encontrar, e do mau atendimento, o caminhão era sujo, barulhento, e Wilson ainda precisou se encarregar de outras etapas do serviço para garantir uma apresentação sem interrupções técnicas.
No fim das contas, não acabou a luz. Wilson pagou o fornecedor, deu tudo certo, mas ficou com aquela coceirinha: “Acho que faço melhor que esse cara”.
Não esperou muito para fazer acontecer. “Sempre tem alguém pra desencorajar, então se demorar muito, você desiste”, conta. “A diferença entre um empreendedor e um louco é que o empreendedor convence os outros da sua loucura.”
Foi ao salão do automóvel, encontrou um caminhão em oferta e pôs um gerador em cima. Começou a imprimir panfletos, encaminhar fax, e disso saíram os primeiros clientes. Tudo estava no posicionamento. Alugar gerador, muita empresa alugava. Mas a Poit Energia era uma fornecedora de infraestrutura elétrica completa temporária.
Sonho cada vez maior
O marketing boca a boca levou a Poit a prestar serviços até para a Rede Globo, cobrindo a Fórmula 1. Wilson ia comprando mais caminhões e geradores à medida em que o dinheiro entrava. E o negócio ia crescendo junto com a demanda. “Eu preciso de 10 geradores para colocar em torres de celulares, você tem?”. A resposta nunca era “não”.
Logo, a Poit Energia estava maior do que o próprio empreendedor pensou que um dia estaria. O sonho ia sendo renovado no ritmo em que a empresa crescia. Firmou ótimos contratos durante o bug do milênio — quando começaram a achar que os computadores entrariam em pane na virada do século. Na época do apagão energético, em 2001, ganhou a mídia. Ali estava a solução para os nossos problemas.
Com toda essa atenção, Wilson começou a ser assediado com propostas para que ele vendesse a empresa. A tentação era grande, mas o conselho dos mais experientes era de não ceder. “Você ainda vai abrir capital na Bolsa, ter filial no Brasil todo”, encorajavam.
Poit acreditou e segurou a onda para focar no crescimento. Em 2002, foi selecionado como Empreendedor Endeavor e passou a contar com grandes mentores para seguir nessa curva ascendente. Ao mesmo tempo, se empenhava em deixar a casa arrumada para quando chegasse a hora certa.
Depois do apagão, no entanto, veio uma ressaca de mercado. Entre 2004 e 2005, a empresa sofreu com a baixa ocupação. Mesmo enfrentando dificuldades, as propostas continuavam a aparecer.
Nessa época, combatendo a solidão do empreendedor em tomar decisões, Wilson montou seu conselho consultivo: “Felizmente encontrei pessoas que me orientaram, me deram exemplo para chegarmos até esse ponto da empresa”.
A venda acabou acontecendo apenas em 2012, quando a Aggreko, líder mundial do setor, adquiriu 100% da Poit Energia.
Sem parar
Quando concluiu seus deveres como CEO, Wilson prometeu à família que ia sossegar. Ter uma agenda menos “de galinha”, como havia sido por 30 anos, e mais “de águia”. Passou a ser conselheiro de algumas empresas, viajou com esposa e filhos. Mas é lógico que não ia parar por aí.
Toca o telefone. “Poit, o que você está fazendo? O [Fernando] Haddad ganhou a eleição em São Paulo e está querendo alguns secretários da equipe dele que não sejam partidários, sejam empresários”.
Wilson foi ao gabinete do recém-eleito prefeito e, passadas algumas semanas de conversas, aceitou o convite para se tornar presidente da SP Negócios, uma instituição focada em promover investimentos, estruturar Projetos de Concessão e Parcerias Público-Privadas e melhorar o ambiente de negócios para o desenvolvimento da cidade.
Gostou. Estava tão animado em ver as mudanças acontecendo que recebeu outro convite. Dessa vez, para presidir a SP Turis, secretaria de turismo, apenas 7 meses antes da Copa do Mundo.
Assumiu as duas funções, depois de “picado pela mosquinha do impacto social”, como ele mesmo diz. No setor público, encontrou uma oportunidade de continuar causando um impacto positivo. “É que nem reunião de condomínio, a gente reclama o tempo todo, mas não vai nem na reunião”, comenta.
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