O empreendedor Dinart Azevedo em um dos cemitérios que usa o Sysgrave, seu sistema de gestão
Você moraria seis meses num cemitério? Acompanharia velórios, sepultamentos e até velaria alguns mortos solitários de madrugada? Pois o analista de sistemas Dinart Azevedo fez tudo isso. Ele passou dois anos mergulhado num trabalho capaz de dar arrepios em muita gente. Durante esse período, desenvolveu o Sysgrave, um software de gerenciamento de cemitérios que também tem uma rede social específica para mortos, batizada de Reviva Vida. É praticamente um Facebook dos mortos.
Para entender todas as especificidades de um cemitério e criar o programa, Azevedo chegou à conclusão de que era preciso passar pela experiência de viver num cemitério. Enfrentou o medo e se mudou para uma suíte improvisada na sala da diretoria do Memorial de São Vicente, na Baixada Santista (SP). “A maioria das pessoas não entende que cemitério é uma empresa difícil de administrar”, diz. “Eram muitas informações e eu não conseguia entender direito como o lugar funcionava.”
Azevedo foi contratado pelos gestores do Memorial para criar uma ferramenta que facilitasse a gestão dos cerca de 300 sepultamentos mensais. Quando aceitou a missão, sabia que o desafio era grande: outras três empresas já haviam falhado. “Eu dormia, fazia as refeições e participava de todos os processos, desde uma venda de jazigo até os processos de sepultamento e exumação de corpos”, afirma.
Durante o dia, o empreendedor acompanhava os processos administrativos. À noite, programava o software. “Eu ouvia barulhos de madrugada, mas era psicológico. Quando quebrei a barreira do medo, passei a encarar friamente”, conta.
Mortos sociáveis
A Reviva Vida, rede social dos mortos, é parte do Sysgrave. Os cemitérios que compram o sistema têm acesso à rede, assim como as famílias das pessoas enterradas nesses locais. Na Reviva Vida é possível criar uma página na internet para homenagear a pessoa e contar um pouco de sua história.
“A ideia é lembrar os momentos bacanas. Dá para postar vídeos, mensagens e fotos do parente que se foi”, afirma Azevedo. Por enquanto, o sistema funciona em fase de testes, com 50 famílias cadastradas.
Morte e negócio
Depois de dois anos trabalhando no Sysgrave, o empreendedor percebeu que ele pode ser transformado num negócio. O programa organiza as partes financeira, operacional e gerencial de cemitério, agilizando a administração.
Além do Memorial de São Vicente, outros três locais também já fecharam negócio e estão usando o software. “Os cemitérios não têm sistemas específicos de gestão”, diz.
O sistema agora está em fase de internacionalização e conta com apoio da Microsoft. “A intenção é traduzi-lo para vender em outros países. Em breve o Sysgrave estará disponível também para uso na nuvem”, afirma Azevedo.
http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/
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