Aos 11 anos, Geraldo Rufino, morador da favela do Sapé, na zona oeste de São Paulo, ia diariamente com o irmão José a um aterro sanitário recolher latas de óleo feitas de aço ou folhas de flandre para vender no ferro-velho. Hoje, aos 55 anos, ele melhorou de vida. Em 2013, sua empresa, um desmanche de caminhões legalizado, faturou R$ 50 milhões.
O caminho para o sucesso foi árduo. Aos 7 anos, após a morte da mãe, o menino abandonou a escola na 2ª série e só retomou os estudos aos 13, por exigência da gerente do antigo parque de diversões Playcenter, que o contratou como office boy.
Aos 15, comprou o primeiro carro: um Fusca, que trocou por uma Kombi, para o irmão prestar serviços para uma transportadora. Dez anos depois, já tinha dois caminhões que usava para transportar adubo.
Em 1985, o que poderia ser o fim do negócio virou uma oportunidade. Os caminhões se envolveram em acidentes e ficaram sem condições de uso. Sem seguro, Rufino teria de amargar o prejuízo. A saída foi desmontar os caminhões e revender as peças. Com a venda rápida, ele notou que havia um mercado e criou a JR Diesel.
Empresa desmontou 900 caminhões em 2013
O negócio que começou desmontando caminhões apenas com ferramentas de mão hoje ocupa uma área de 15 mil metros quadrados em Osasco, na Grande São Paulo. No local, há uma loja para revenda das peças. Segundo Rufino, 97% da receita da empresa é gerada pela venda de peças, principalmente para feirantes e empresas de logística.
"Quando um caminhão bate, na maioria das vezes, apenas a lataria é danificada. A maior parte dos componentes mecânicos permanece intacta", diz. As partes que não podem ser reaproveitadas são vendidas para reciclagem. Os pneus, por exemplo, viram combustível para fornos industriais e matéria-prima para fabricação de asfalto, enquanto óleos e fluidos são refinados e reutilizados.
Os caminhões são comprados em leilões de seguradoras e transportadoras. Só no ano passado, a JR Diesel desmontou cerca de 900 veículos. "Não compramos de pessoa física porque é muito difícil comprovar a origem do caminhão e das peças", afirma Rufino.
Desmanches precisam comprovar origem da peça
A origem do produto e o tempo de uso são informações que devem ser, obrigatoriamente, comprovadas pelas empresas de desmontagem, de acordo com uma lei federal sancionada em maio. Os desmanches de veículos também precisam ser credenciados pelo Detran (Departamento Estadual de Trânsito).
No Estado de São Paulo, a chamada "Lei dos Desmanches", sancionada em janeiro, prevê regras ainda mais rígidas para o setor, como a apresentação de atestado de antecedentes criminais dos sócios, colocação de código de barras para rastreamento das peças e autorização da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).
"Por um lado, toda essa regulação pode dificultar a atuação do empresário e exigir dele maior profissionalização. Mas, por outro, são regras importantes para combater a concorrência desleal e a atividade criminosa", diz Israel Alexandre de Souza, diretor de veículos do Detran-SP.
Mercado está aberto a novas empresas
O mercado de desmanche e reciclagem de automóveis no Brasil ainda engatinha, segundo o diretor de relações institucionais do Sindinesfa (Sindicato das Empresas de Sucata de Ferro e Aço), Leonardo Palhares. Dados da entidade dizem que apenas 1,5% das frotas sem condições de rodagem no país é reciclada.
"Na Europa, por exemplo, esse índice chega a 95% e os países têm metas usadas de reciclagem de veículos. Isso demonstra que por aqui ainda há muito espaço para novas empresas avançarem", afirma.
Consumidor deve ter cuidado ao comprar peça usada
Para Marcelo Alves, professor do Centro de Engenharia Automotiva da Poli-USP, comprar peças de reposição usadas exige cuidado. Segundo ele, é preciso estar atento ao estado de conservação e checar o tempo de rodagem anterior.
"O consumidor deve desconfiar quando a numeração de série estiver apagada ou adulterada. Esse é um sinal claro de que a peça não é legalizada", afirma. A lei paulista proíbe a revenda de itens de segurança, suspensão, freios, direção e controle de estabilidade pelos desmanches.http://economia.uol.com.br/empreendedorismo/noticias/redacao/ex-catador-de-latas-fatura-r-50-mi-por-ano-com-desmanche-legal.htm
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